EXCLUSIVO!!! Entrevista com Tomaz Viana

Entrevista exclusiva com Tomaz Viana, criador da Fun Crew

Tomaz Viana, 33 anos, baiano, radicado no Rio de Janeiro há quase 20 anos, é um dos artistas pioneiros a explorar a arte do grafite fora dos muros.

Toz, como é mais conhecido, começou ilustrando a paisagem urbana da cidade do Rio de Janeiro com seu grafite, e não demorou muito para que fosse procurado por empresas para estampar seus desenhos em produtos, campanhas publicitárias, e participar de exposições. Hoje suas telas são vendidas a colecionadores de artes dentro e fora do país.
É designer formado, e em sua trajetória já desenvolveu linha de roupas, apresentada no Fashion Rio por três edições, além de projetos especiais como a capa do CD do Marcelo D2 , entre outras coisas.
Em entrevista ao blog TODAVOCE, o artista fala sobre sua trajetória, suas expectativas e sua contribuição para o quadro artístico nacional.

Entrevista:

Como nasceu a Fun Crew? Tudo teve uma data de início ou foi um movimento natural de sua trajetória? Como aconteceu?

Foi um movimento natural, mas sempre quis e busquei isso, logo que surgiram os personagens já tinha isso como meta, sempre quis aplicar meus desenhos em superfícies e forma variadas.

Cada um de seus personagens tem uma peculiaridade e influências de universos distintos. Você pode falar mais um pouquinho sobre cada personagem?

Acho que cada personagem carrega uma característica de pessoas que conheço ou minha mesma, temperamento, espírito e até expressões. O BB Idoso tem um lado mal humorado, apaixonado, triste e solitário, a Nina é romântica, melancólica e sonhadora, o Shimu é brincalhão, alegre e infantil. Cada um revela um pouco do que eu estou passando naquele momento.

Existe algum dos seus personagens que você se identifica. Por quê?

Identifico-me com todos. Como tinha falado, cada um fala de um coisa, quando coloco todos numa cena quero dar a impressão de vários momentos diferentes.

Seu universo artístico hoje gira apenas em torno dos personagens da Fun Crew ou existe mais algum projeto em andamento?

Sou muito intenso, vivo desenhando novas possibilidades, pensando em formas novas e também em novos personagens, acho que toda a minha criação esta ligada ao meu dia a dia.

Como a Fun Crew foi parar nas bolsas da Cillié? Como você está avaliando os resultados até o momento?

Eu tinha acabado de fechar um contrato com a Faresak para representar o meu trabalho, e na sequência vieram os primeiros contratos e um deles o da Cillié. Eu sempre quis trabalhar em grande escala e quando vi a estrutura e como os meus desenhos ficariam legais nos produtos, fiquei realizado. Meu maior sonho era fazer os toys e eles ficaram melhor do que eu esperava! Espero continuar evoluindo nos desenhos e produtos.

Quais são suas principais influências?

Tenho muitas, música, cinema, desenho animado, gibi, moda, grafite e arte contemporânea.

Teve alguém que ajudou você ou o orientou , tipo um guru?

Tenho vários que foram importantes; meu pai, o Binho que é um dos pioneiros no grafite no Brasil, Speto, os gêmeos, Herbert Baglione, Flip, True, entre outros. Acho que todos direta ou indireta contribuíram para minha evolução.

Na sua vida, o que foi definitivo para que você optasse pela arte?

Meu temperamento.

O estilo do grafite brasileiro é reconhecido entre os melhores de todo o mundo. Você acredita que isso irá ajudar o Toy Art brasileiro a ser reconhecido também?

Acho que a arte não tem que ter nacionalidade, a evolução dessas culturas se faz pelo mundo. Em cada lugar tem um grupo de pessoas produzindo coisas. A internet uniu todos numa rede, e hoje em dia, você pode ver um estilo de desenho com traços orientais feito no Brasil

Seu trabalho é considerado inovador por estar na fronteira entre a POP-Art e o Grafite Hip-Hop, Você acredita que existe essa fronteira?

Acho que sim. Tem gente que é grafiteiro que só faz letras e vandalismo, não pensa em fazer uma exposição ou um produto. Sempre pensei e quis fazer essas coisas também alem do grafite, aplicar minha arte em diferentes mídias.

Na Pop Art há um elogio ao simples, mas também uma crítica à cultura de massas. Você compartilha desta posição? Em princípio parece um pouco contraditória.

Meu trabalho é totalmente isso. Acho que tem que ter uma bolsa que um modelo pode vender 100 mil, e uma tela única que só uma pessoa terá. Minha forma de criticar é fazendo parte de uma indústria que produz milhares de produtos e eu faço um grafite de forma ilegal.

Como você vê o desenvolvimento da arte no Brasil e no mundo atual?

Acho que esta evoluindo e fazendo escola. Acho que hoje muitos jovens de qualquer lugar do mundo, que resolvem fazer arte, pensam no grafite como uma referencia de qualidade. Acho que é a forma de arte que mais faz parte do cotidiano dos jovens atuais.

O que significa ser artista em um país que vive em um abismo educacional-cultural, com milhões de analfabetos-funcionais?

Para mim a única diferença é a dificuldade de apoio para muitos projetos, mas fico feliz e honrado de fazer parte de um grupo que faz a diferença para a evolução da cultura no país.

O que acha de suas criações estarem bastante ligadas a venda de produtos?

Acho ótimo, nunca pensei que poderia viver só da minha arte.

De que maneira o seu trabalho tem influenciado comportamentos que valorizam a criatividade?

Acho que tudo que está ai na rua ou em outros meios está influenciando e valorizando a criatividade.

Em citação feita ao folha on line, você diz que : “O Rio para mim é o calçadão do mundo".Como Você poderia nos explicar essa afirmação num contexto de arte global?

Acho que o Rio tem todos os elementos de uma grande metrópole que influenciam muitos pelo mundo. Morando no Rio ou em São Paulo você está atualizado com o que está rolando no mundo, em diversas áreas da arte.

Você é um dos fundadores da Flesh Beck Crew, formado por artistas, designers, estilistas e grafiteiros. De alguma forma esse coletivo influencia as decisões em sua carreira?

Sim, claro. Todos são meus amigos e me influenciam de muitas formas, até na escolha de cores para os trabalhos, acho isso ótimo essa de trabalhar em grupo.

A arte do grafite é uma forma de manifestação artística em espaços públicos e está diretamente ligada a forma de expressar toda a opressão que a humanidade vive, principalmente os menos favorecidos. Através dessa linguagem você ganhou grande reconhecimento, e desenvolveu uma linha de roupas apresentada no Fashion Rio, hoje as peças estão sendo vendidas na Daslu, Club Chocolate, Doc Dog e Pala Pala. Você acredita que seu trabalho é uma ponte entre esses mundos tão distintos?

Foram vendidas nestes lugares. Acho que grafite é isso, pode estar numa favela como na Vieira Souto numa cobertura, isso não é um privilegio só do meu trabalho.

Qual foi a encomenda que mais mexeu com seu ego, a que teve mais repercussão? Qual o trabalho mais “excêntrico”?

Acho que as minhas exposições sempre mexem comigo de todas as formas, mas acho que o melhor está para vir sempre!

Quais são os planos daqui pra frente?

Continuar fazendo o que amo, com a mesma intensidade e convicção, e cada vez com mais qualidade!

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